domingo, 8 de abril de 2012

Resenha do filme “Beleza Adormecida” de Julia Leigh, 2011. Por Júlia Teixeira Rodrigues


Um dos meus maiores problemas é que é difícil eu ouvir falar de um filme e não sentir vontade de assistir. O que acaba me acontecendo é que eu assisto muitos filmes bons, muitos ruins e muitos do tipo de “Beleza Adormecida”, uma grande incógnita.
O filme, que foi o primeiro da diretora Julia Leigh, passa a primeira impressão de ser mais uma daquelas releituras do conto de fadas “A Bela Adormecida”. A conexão é ainda mais explícita no título original “Sleeping Beauty” e se fortifica graças ao tom misterioso e etéreo do filme. No entanto, o filme estrapola exageradamente a lenda, talvez com o objetivo de discutir questões e estigmas de sexualidade e da vida.
Esses estigmas são questionados através da história de Lucy, interpretada com maestria por Emily Browning. Lucy é uma universitária sem dinheiro, que parece estar desconectada de tudo que lhe acontece; ela decide sua vida sexual pela sorte de uma moeda, tem dois trabalhos dos quais não parece gostar e frequenta a faculdade com desapego. Ela parece se dispor a fazer qualquer coisa para conseguir dinheiro, até mesmo testes de laboratório com seu próprio corpo. A única coisa que parece despertar alguma emoção na garota é seu “amigo” alcoólatra, a quem ela tenta alimentar misturando gin com aveia.
Após responder um anúncio no jornal do campus, ela é recrutada para um trabalho extremamente específico do campo sexual e que traz um lucro que ela nunca teve. O resto da história, deixo para os corajosos que decidirem ver o filme. Na minha opinião, é uma obra muito interessante, que remete à Buñuel ou David Lynch. No entanto, fica claro desde o primeiro minuto que poucos apreciarão e talvez ninguém entenderá o filme da mesma maneira. O objetivo da diretora não parece ser entregar o entendimento de bandeja no colo dos espectadores, mas sim deixar que eles adaptem seu entendimento de acordo com suas experiências. É claro que isso o torna um filme aflitivo de se assistir em alguns momentos, mas nesse caso prefiro partir da máxima “Sem sofrimento a glória não se alcança”.

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