terça-feira, 3 de abril de 2012

A Marca da Maldade, escrito, dirigido e estrelado por Orson Welles, EUA, 1958. Por Maria Isabel Rodrigues Teixeira.


Passei o último fim de semana numa pousada muito bacana em Santo Antonio do Pinhal, SP. Além da paisagem linda e tranqüilizante, da comida inspirada servida pelo chef Marcello Catalfamo e das instalações confortáveis e bonitas, a Pousada do Cedro ainda oferece uma seleção de ótimos filmes que podem ser assistidos no quarto ou no business center.  Escolhemos A Marca da Maldade, que por um lapso da minha educação nunca tinha visto.
Charlton Heston faz o honesto detetive mexicano Ramon Vargas, em lua de mel na fronteira México-EUA com Susan, sua esposa americana, Janet Leigh (sim, a mesma que mais tarde foi assassinada pelo mãeniaco do Hotel Bates, em Psicose). Orson Welles faz o policial corrupto, Hank Quinlan, que, tendo perdido a esposa anos atrás sem nunca conseguir achar o culpado, se transformou numa pessoa amarga e obcecada por resultados, mesmo que os ditos não sejam assim tão acurados ou corretos. Para consegui-los, não se acanha em forjar provas, ameaçar testemunhas e lançar mão de quaisquer subterfúgios. O que lhe interessa é ter um culpado nas mãos.
Logo no começo do filme ocorre um assassinato: vemos um sujeito colocando uma bomba num conversível onde em seguida embarca um rico boêmio acompanhado de uma garota. Os dois andam no carro por um tempo, passam por vários transeuntes, entre eles o detetive Vargas e sua esposa, cruzam a fronteira do México para os EUA e a bomba explode.
Como a bomba foi plantada no México e explodiu nos EUA, as autoridades dos dois lados se reúnem para desvendar o caso.
A partir daí segue-se um excelente film noir, onde o suspense prende até o fim. A trama intrincada, as cores sombrias, a cilada para uma inocente, tudo confirma o que inúmeros críticos já apontaram: este filme, além de ser um dos últimos, também é um dos melhores do gênero. Tem até a Marlene Dietrich numa ponta como a femme fatale, ex amante do vilão. 
Aliás, o elenco estelar já dá uma idéia da qualidade: Charlton Heston, legítimo representante do cinemão Hollywood, aparece com um bigodão para que ninguém esqueça que o personagem é mexicano, e Janet Leigh está ótima como a americana audaciosa e ligeiramente ingênua, que acaba vítima da associação entre a máfia e a policia corrupta. O melhor de todos, porém é o gordíssimo e torturado policial de Orson Welles, que iria apenas atuar, mas acabou dirigindo o filme porque o produtor quis agradar o astro Charlton Heston. Este aceitou o papel pensando que Welles seria o diretor. Durante as filmagens Welles mudou o roteiro várias vezes e, no fim, o estúdio não montou o filme conforme suas especificações. Só recentemente foi montada uma versão segundo a vontade dele, que é a que vimos.
Um pouco por conta dessas idas e vindas, é preciso prestar atenção para entender a história, como em todo bom noir. Claro que no final dá tudo certo (menos para os que morrem pelo caminho) e o casal central pode deixar todos os problemas para trás. Adormeci em meio a lençóis egípcios embalada pela trilha sonora de Henri Mancini.

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