sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"As Esganadas", Jô Soares Companhia das Letras, 2011 Texto por Maria Isabel Rodrigues Teixeira


Uma amiga minha me recomendou As Esganadas do Jô Soares, dizendo que rolou de rir com o livro (e ela nem é gorda). Assim, outro dia estava conferindo a livraria que substituiu a Saraiva (ou era Siciliano?) na banca da Cidade Jardim, Livraria do Alto, e topei com uma pilha de esganadas me chamando.
Realmente é bem engraçado e a mistura dos personagens reais com os fictícios torna a trama ainda mais interessante do que seria normalmente.
É bem verdade que para se aproveitar adequadamente toda a extensão da graça o leitor precisa ter uma bagagem nem tão mínima de conhecimentos gerais e História do Brasil da primeira metade do século 20. Senão corre o risco de passar mais tempo no Google que lendo o livro. 
Não tem perigo de estragar a surpresa do mistério porque logo no primeiro capítulo já fica claro quem é o culpado pelos crimes que assustam o Rio de Janeiro do final dos anos 30. Então, livres do stress de tentar descobrir quem anda matando as gorduchas, podemos nos divertir com as listas de acepipes portugueses, informações sobre futebol, música, ópera e Wagner em especial, curiosidades biológicas e, claro, o ambiente pré Segunda Guerra/Estado Novo que impregnava o Brasil na época.
O protagonista do livro, um cruzamento de Jô Soares com Sherlock Holmes com umas pitadas de Tarzan, é um simpático ex detetive português que veio ao Brasil e se tornou bem sucedido empresário da gastronomia lusitana, Tobias Esteves. As interações dele com os vários outros personagens são sempre bem humoradas e eficazes. 
E falando nos outros personagens, temos que mencionar o vilão, Caronte, um verdadeiro compêndio psiquiátrico ambulante. Com mãe dominadora, pai fraco, doença congênita, nome de barqueiro amaldiçoado e um imenso talento musical frustrado por ter que trabalhar no negócio da família, não tinha como ele não ter ficado meio desaparafusado das idéias. Ele tem até um assistente (com um apelido pra lá de sugestivo) tétrico para ajudar na funerária, que é o tal negócio da família.
A mocinha do livro, Diana, é linda, inteligentíssima, honesta, cheia de ética, independente, bem sucedida, repórter e filha de milionários, ou seja, completamente inverossímil e irresistível, e cumpre bem o seu papel ao lado da outra personagem feminina que não é gorda nem vítima: Yolanda a bela esposa do delegado Mello Noronha. As duas ajudam a compor um ótimo time formado pelo detetive português, pelo delegado e por seu assistente, Valdir Calixto. 
As vitimas formam um formidável grupo de rechonchudas senhoritas, todas pra lá de cem quilos, cada uma morta por meio de uma guloseima portuguesa. É de embrulhar o estômago. Para completar, temos um anão palhaço, rico e cantor de ópera. 
Pensando bem, o livro poderia se chamar “A Ópera do Papa-Defuntos Doido”, já que Caronte não era muito chegado a samba, nem era criolo. Boa leitura!

Nenhum comentário:

Postar um comentário