segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

84th Academy Awards, mesmas piadas e nada de surpresas. Por Sarah Paulini.



A 84ª Cerimônia do Prêmio da Academia, mais conhecida como Oscar, deixou a desejar. Depois de Eddie Murphy ter recusado apresentar o tão esperado evento de Hollywood, Billy Crystal assumiu seu lugar, apresentando a cerimônia dos melhores da sétima arte. Billy Crystal é um comediante que já foi engraçado, mas infelizmente, está velho, e tivemos que aguentá-lo a noite toda depois do Tapete Vermelho. Com homenagens sem sentido e anunciantes dos vencedores sem nenhum carisma, esta 84ª edição das premiações foi uma das mais decepcionantes, e uma das mais sem surpresas também.

Todos sabem que o Oscar divide suas categorias, basicamente entre técnica e performance. Tendo dois filmes que se destacaram em cada quesito. No primeiro foi o genioso e espetacular A Invenção de Hugo Cabret, dirigido pelo injustiçado Martin Scorcese, que neste filme abandonou o mundo das máfias e da violência para dar lugar ao imaginário fantástico de Hugo e os efeitos especiais que nos deixam pensando que filmes feitos para se ver em 3D podem ser muito bons. Na categoria de performance, o grande campeão da noite foi o Artista, e a França, de Michel Hazanavicius, ganhando também por melhor diretor, melhor ator e melhor trilha sonora, por fazer o ousado, o que ninguém mais lembrava, filmes mudos em Hollywood em pleno século XXI. Realmente foi um excelente trabalho. Se fosse estreado nos anos 30, tenho certeza que iríamos lembrar deste espetacular filme até hoje como um dos clássicos do cinema mudo.

A categoria de Melhor Atriz foi muito disputada, com muitas atrizes que mereciam ganhar um Oscar, mas Meryl Streep, como toda sua elegância e competência acabou levando para casa a estatueta de ouro por interpretar Margareth Tatcher em A Dama de Ferro, no qual sua atuação e a maquiagem, que também ganhou um Oscar, foram as únicas coisas que realmente foram geniais. Infelizmente, A Dama de Ferro é um daqueles filmes que o roteiro poderia ter sido um dos mais espetaculares por se tratar de uma mulher importante e muitíssimo essencial para a história do mundo ocidental contemporâneo, mas não souberam fazer um roteiro bem feito para uma história tão rica, delegando toda a grandeza do filme à espetacular atuação de Meryl Streep, que, nas palavras de Cameron do Modern Family, poderia interpretar Batman e ainda ser a melhor escolha, foi inesquecível. Temos que lembrar também de Viola Davis, em Histórias Cruzadas, que interpretou uma babá que ainda sofria o preconceito do interior americano nos início dos anos 60, esta deveria ganhar o prêmio de segundo lugar. Logo após, temos Rooney Mara, com sua incrível metamorfose depois de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, em que ela sai de um papel de uma garota rebelde abandonada por todos e tida como incompetente mental, para uma linda menina estilo bonequinha anos 50 na apresentação do Oscar. Gleen Close também foi premiada por transvestir-se em Albert Nobbs, representando a Inglaterra e, para completar, Michelle Williams para Sete Dias com Marylin. Acho que a Academia esqueceu-se de Tilda Swinton em Precisamos Falar Sobre o Kevin.

Para os papéis de coadjuvantes, também não tivemos muitas surpresas. Christopher Plummer ganhou seu Oscar com 82 anos por atuar em Toda Forma de Amor, em que fez o papel de um pai que, logo após que sua esposa morre de câncer, se declara gay ao seu filho e passa a namorar abertamente outro homem. Na sua premiação, Plummer brinca que com "você [estatueta do Oscar], só é 2 anos mais velha do que eu, por onde andava por toda a minha vida?", esbanjando simpatia e doçura. Já na categoria feminina do prêmio, foi premiada, merecidamente, Octavia Spencer, por seu papel em Histórias Cruzadas, também por atuar como uma babá negra que sofre preconceitos de sua patroa por usar o banheiro "dos brancos", e assim, cumpre um papel memorável com suas tortas, ajudando a personagem de Emma Stone a criar o livro que deu origem ao filme.

Dentro das categorias mais famosas, temos o melhor roteiro original e adaptado. O prêmio de melhor roteiro adaptado foi para Os Descendentes, em que, para surpresa de todos, o ator Jim Rash, o Dean Pelton de Community, ganhou junto com os roteiristas do filme que deu uma indicação para George Clooney como melhor ator. É, será que o Oscar está sendo invadido pelas séries americanas? Tina Fey apresentou também uma das categorias da noite de ontem e, ano passado, como não lembrar, tivemos Alec Balwin apresentando a cerimônia. E, para completar, o Oscar para melhor roteiro foi para Woody Allen, com seu fantástico Meia-Noite em Paris, em que ele revive personagens reais da Belle Époque da glamurosa Paris dos anos 20 e 30. Mas, como nós conhecemos Woody Allen, ele não foi receber o prêmio. Academia, Woody Allen está chateado com vocês.

Entre outros momentos memoráveis na cerimônia, que teve seu momento de ápice quando acabou pois todos estávamos com sono e entediados, tivemos momentos agradáveis, como quando Emma Stone foi apresentar sua primeira nomeação um tanto quanto stoned? E ficou falando coisas sem sentido e com uma rapidez incrível perto de Ben Stiller que ficou sem palavras. Tivemos também a apresentação sem graça de Cameron Diaz e Jennifer Lopez que tiveram que ficar de costas para que as pessoas pudessem se lembrar, ou acordar, para saber quem era pelo menos a J.Lo, com suas características latinas. Octavia Spencer, ao ganhar seu Oscar também teve seu momento de euforia, em que não sabia se agradecia ou pedia desculpas. Desculpas por que, Octavia? Por ser sensacional? Não precisava, nós te amamos. Tivemos também a dupla de O Homem de Ferro, com Gwyneth Paltrow e Robert Downey Jr., que apresentaram a premiação para melhor documentário, brincando em fazer um documentário sobre apresentadores de Oscar, e assim, arrancando as primeiras risadinhas da noite. Outro momento digno de risadinhas foi quando Will Ferrell e Zach Galifianakis apresentaram o prêmio de melhor música, em que o povo brasileiro se sentiu injustiçado mais uma vez por perderem o Oscar que Carlinhos Brown e Sergio Mendes concorriam por seu trabalho musical em Rio, perdendo para Bret McKenzie em Muppets.

Tivemos uma apresentação fraca noite passada, embora alguns filmes tenham sido geniais. Será que a Academia e seus filmes indicados estão demonstrando a queda de Hollywood, com sua ganância por bilheterias altas e efeitos especiais, esquecendo-se do que a sétima arte é feita, característica lembrada maravilhosamente bem com O Artista. Premiar um filme preto-e-branco e mudo, algo que a maioria das pessoas comuns não tem nenhum interesse, principalmente sendo um francês, mostra que é possível fazer qualidade ainda nas telas, e ainda mais, ser reconhecido? Talvez a Academia deva aprender mais com os franceses e os iranianos, que ganharam de melhor filme estrangeiro. Nesta noite, a maior campeã foi com certeza a França.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"As Esganadas", Jô Soares Companhia das Letras, 2011 Texto por Maria Isabel Rodrigues Teixeira


Uma amiga minha me recomendou As Esganadas do Jô Soares, dizendo que rolou de rir com o livro (e ela nem é gorda). Assim, outro dia estava conferindo a livraria que substituiu a Saraiva (ou era Siciliano?) na banca da Cidade Jardim, Livraria do Alto, e topei com uma pilha de esganadas me chamando.
Realmente é bem engraçado e a mistura dos personagens reais com os fictícios torna a trama ainda mais interessante do que seria normalmente.
É bem verdade que para se aproveitar adequadamente toda a extensão da graça o leitor precisa ter uma bagagem nem tão mínima de conhecimentos gerais e História do Brasil da primeira metade do século 20. Senão corre o risco de passar mais tempo no Google que lendo o livro. 
Não tem perigo de estragar a surpresa do mistério porque logo no primeiro capítulo já fica claro quem é o culpado pelos crimes que assustam o Rio de Janeiro do final dos anos 30. Então, livres do stress de tentar descobrir quem anda matando as gorduchas, podemos nos divertir com as listas de acepipes portugueses, informações sobre futebol, música, ópera e Wagner em especial, curiosidades biológicas e, claro, o ambiente pré Segunda Guerra/Estado Novo que impregnava o Brasil na época.
O protagonista do livro, um cruzamento de Jô Soares com Sherlock Holmes com umas pitadas de Tarzan, é um simpático ex detetive português que veio ao Brasil e se tornou bem sucedido empresário da gastronomia lusitana, Tobias Esteves. As interações dele com os vários outros personagens são sempre bem humoradas e eficazes. 
E falando nos outros personagens, temos que mencionar o vilão, Caronte, um verdadeiro compêndio psiquiátrico ambulante. Com mãe dominadora, pai fraco, doença congênita, nome de barqueiro amaldiçoado e um imenso talento musical frustrado por ter que trabalhar no negócio da família, não tinha como ele não ter ficado meio desaparafusado das idéias. Ele tem até um assistente (com um apelido pra lá de sugestivo) tétrico para ajudar na funerária, que é o tal negócio da família.
A mocinha do livro, Diana, é linda, inteligentíssima, honesta, cheia de ética, independente, bem sucedida, repórter e filha de milionários, ou seja, completamente inverossímil e irresistível, e cumpre bem o seu papel ao lado da outra personagem feminina que não é gorda nem vítima: Yolanda a bela esposa do delegado Mello Noronha. As duas ajudam a compor um ótimo time formado pelo detetive português, pelo delegado e por seu assistente, Valdir Calixto. 
As vitimas formam um formidável grupo de rechonchudas senhoritas, todas pra lá de cem quilos, cada uma morta por meio de uma guloseima portuguesa. É de embrulhar o estômago. Para completar, temos um anão palhaço, rico e cantor de ópera. 
Pensando bem, o livro poderia se chamar “A Ópera do Papa-Defuntos Doido”, já que Caronte não era muito chegado a samba, nem era criolo. Boa leitura!